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Em busca de humanização no nascimento, Centro Natural de Parto reabre em JF

A Casa de Parto de Juiz de Fora, fechada em 2007, reabre no início de 2015 como Centro Natural de Parto, acoplada ao Hospital Universitário (HU), no Dom Bosco, na Cidade Alta.

As Casas de Parto foram criadas em 1999, em todo o Brasil e são unidades de saúde onde trabalham nutricionistas, assistentes sociais e enfermeiros especializados em obstetrícia, cuja missão é realizar o parto humanizado. Em 2011, o governo federal lançou o Rede Cegonha, um projeto que tem por objetivo a implantação de centros de parto natural por todo o Brasil, integradas ao Sistema Único de Saúde (SUS). O programa prevê a instalação de 200 unidades em todo o país até o final deste ano. A de Juiz de Fora terá enfermeiras obstetras no comando, mas também contará com médicos, para caso haja qualquer complicação nos partos.

Assista ao vídeo abaixo e compreenda a diferença entre hospitais e Centros de Parto Normal.

 

UM TRAUMA ANORMAL

A violência obstétrica é cada vez mais comum. Uma pesquisa feita em 2010 pela Fundação Perseu Abramo revelou que 25% das mulheres brasileiras sofreram violência durante o parto. Ela caracteriza-se pela apropriação do corpo da mulher e de seus sistemas reprodutivos pelos profissionais de saúde através de tratamentos desumanizados, abuso de medicação e outros meios, causando a perda da autonomia e da capacidade de decidir sobre seus corpos.

A enfermeira residente em obstetrícia, Andressa Rodrigues, explica como essa violência pode ocorrer.

violenciaSão violências obstétricas:

  • Tratamento impessoal;
  • Não permissão de acompanhantes;
  • Tratamento hierarquizado;
  • Submissão a procedimentos invasivos;
  • Privação de segurar o bebê após o parto;
  • Comentários chocosos e ameaçadores;

Os casos podem ser denunciados no site do Ministério Público Federal ou em delegacias.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é campeão em relação ao resto do mundo em cesarianas. Em 2010, a porcentagem de realização desse procedimento atingiu 52%, quando o recomendado pela OMS é de apenas 15%.

Muitas mulheres desistem de tentar o parto normal por medo ou por indução médica. Entretanto, a cesariana pode ter várias desvantagens.

Para tornar o procedimento o mais natural possível, casas de parto utilizam técnicas de alívio da dor, como massagens e banho morno, além de tecnologias não invasivas como bolas, banquinho e cavalinho, que ajudam na descida do bebê. A enfermeira Andressa Rodrigues ainda destaca a importância em estimular o córtex primitivo, ou seja, incentivar que a mulher tome suas próprias atitudes no momento do parto e, assim, fique na posição mais confortável para que o filho nasça, por exemplo: de cócoras, quatro apoios ou com uma perna levantada.

UM MODELO DE SUCESSO

A Casa de Parto David Capistrano Filho, em Realengo (RJ), completou dez anos em março e atende, em média, 640 mulheres por mês. Em sua história, já foi fechada pela vigilância sanitária que alegou falta de equipamentos essenciais. Entretanto, após reivindicações de profissionais e de grávidas, foi reaberta.

A instituição realiza partos de baixo risco de mulheres com as seguintes condições: idade gestacional até a 34ª semana, não tenha filhos nascidos por cesárea, não tenham sido submetidas a nenhuma cirurgia uterina e que não apresentem qualquer problema de saúde, como diabetes, hipertensão, bronquite, asma, entre outros. Para que a gestante seja acolhida pela casa é necessário que ela participe de oficinas, consultas e plano de parto. Depois de todo esse processo, o pré natal também precisa ser realizado na unidade.

De acordo com a enfermeira e diretora da casa de parto, Leila Azevedo, desde o primeiro contato, os profissionais tentam desconstruir o modelo “medicalizado” do parto na atualidade, despindo preconceitos e ideias pré-concebidas do processo: “O grande benefício de uma casa de parto é olhar para o parto como um evento feliz, sexual e ímpar. Não existe um parto igual ao outro. A casa de parto possibilita um ambiente mais próximo à realidade doméstica das mulheres. O simples fato de não usarmos o ‘branco’, da casa ser colorida, das mulheres e suas famílias conhecerem o ambiente já torna esse processo menos ameaçador.”

A Casa de Parto de Realengo luta diariamente contra a violência obstétrica e a favor da humanização do parto.

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